A afeição que Calouste Gulbenkian nutria pelas coisas belas estendia-se à natureza, tanto à flora, como à fauna. A contemplação do mar, revolto de preferência, de um pôr do sol “fantástico de beleza”, ou um passeio pelos campos constituíam para ele prazeres supremos. Para além da paisagem natural sem intervenção do homem, Calouste Gulbenkian manifestou também um interesse muito especial pelos jardins e pela sua história. Na sua biblioteca particular encontramos as provas concretas dessa verdadeira paixão sob a forma de um conjunto de obras sobre diversos assuntos relacionados com a arte dos jardins, com o cultivo de várias plantas e espécies de flores e ainda sobre a plantação e manutenção de hortas. Neste conjunto, Calouste Gulbenkian reuniu títulos que abordam estas temáticas de uma forma mais teórica e que na época constituíam obras de referência, como é caso de Théorie de l’art des jardins, obra em 5 volumes, publicada entre 1779 e 1785, La théorie et pratique du jardinage, também do século XVIII, ou Observations on the theory and practice of landscape gardening, obra publicada em 1805, da autoria do jardineiro-paisagista inglês Humphrey Repton. A par destes títulos, encontram-se outros de carácter mais geral e prático, como The making of a garden e La fumure des jardins, por exemplo.
Calouste Gulbenkian apreciava especialmente as rosas e foi sobre esta espécie floral que reuniu mais documentação, desde manuais práticos e guias de cultivo, a algumas revistas especializadas. Na secção de publicações periódicas encontram-se também diversos títulos da época relativos à arquitectura paisagista, à horticultura e à floricultura, como The gardeners’ chronicle: a weekley illustrated journal of horticulture and allied subjects e Jardins & basses-cours: conseils pratiques par le text et par l’image pour tous les travaux de la campagne, só para citar dois eles.
A estima muito especial que Calouste Gulbenkian nutria igualmente pelos animais em geral, e pelas aves em particular, revela-se e é confirmada pela sua biblioteca, através de obras como How to sex cage birds, Pourquoi les oiseaux chantent, The poultry-keepers’s text-book – que apresenta diversas e curiosas anotações manuscritas a propósito de alguns sistemas de criação de aves em capoeiras - ou ainda Le Zoo du bureau, obra oferecida, com dedicatória, por um dos seus filhos, no Natal de 1950. No seu todo, este é um conjunto que surpreende por algumas das temáticas que aborda e que nos revela um pouco mais sobre este interesse tão particular e sobre a personalidade do seu possuidor.