A França foi, a par da Inglaterra, uma das grandes referências civilizacionais e culturais do final do século XIX e primeira metade do século XX. Durante estes anos, Paris transformou-se no palco privilegiado das principais vanguardas artísticas. Foi a capital francesa que, em 1923, Calouste Gulbenkian escolheu para fixar a sua residência. Durante vários anos, até à ameaça das tropas nazis, em 1941, Paris foi a “sua” cidade. O fascínio pela arte e cultura francesas nascido, provavelmente, durante a frequência do colégio francês de Saint Joseph e reforçado nos anos em que viveu em Marselha, aprofundou-se e alargou-se então. Calouste Gulbenkian manifestou-o de formas muito diversas: pelo gosto em passear pelas ruas de Paris, parando para admirar as montras das lojas dos criadores que tornaram célebres a moda do século XX, frequentando os mais famosos restaurantes, alojando-se no mais requintado dos hóteis da cidade-luz e relacionando-se com personalidades do panorama social, intelectual e artístico francês da época, como a grande actriz Sarah Bernarhdt, o poeta Saint-John Perse, o jornalista e advogado Léon Gambetta, ou o diplomata Henry Bérenger.
Este interesse de Calouste Gulbenkian manifestou-se ainda nas obras reunidas na sua biblioteca particular, que abrangem um largo espectro de autores e de temas relacionados com a História, a Literatura, a Arte e, de um modo geral, com a Cultura francesa. Entre títulos como L’art romantique e Curiosités esthétiques, ambos da autoria de Charles Baudelaire, Salammbô e Un coeur simple, de Gustave Flaubert, Théatre complet de Jean Racine ou Mauprat de Geoges Sand, encontram-se outros que transmitem bem a atmosfera cosmopolita e mundana de Paris do fin de siécle. É o caso das revistas Le théatre, cujo primeiro número foi editado em 1898, com notícias sobre a actualidade teatral e artigos sobre guarda-roupa e cenários de peças, e da Revue des quat’saisons, editada entre 1900 e 1901, pela parisiense Societé d’Éditions Littéraires et Artistiques.
Existe também um núcleo de títulos de monografias e de publicações periódicas sobre a moda e a beleza feminina, temas pelos quais Calouste Gulbenkian demonstrou um interesse muito especial. Trés parisien, revista publicada entre 1920 e 1936, Les modes: revue mensuelle illustrée des arts décoratifs appliqués à la femme e Art, gôut, beauté: revue d’art des plus belles modes de Paris foram das revistas que mais influenciaram o gosto e a moda durante as primeiras três décadas do século XX. La femme et la mode: métamorphoses de la parisienne de 1792 à 1892, Les modes de Paris: variations du gôut et de l’esthétique de la femme, 1797-1897, Voyage autour de sa chambre e Contes de la vingtième année: bric à brac de l’ammour são apenas alguns dos títulos que abordam temas directamente relacionados com o universo feminino, como a moda e o amor, da autoria do escritor francês Octave Uzanne, um dos intérpretes do espírito da belle époque que marcou as últimas décadas do século XIX no mundo Ocidental.