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Os anos de Lisboa

Em 1942, Calouste Gulbenkian chegou a Lisboa, vindo de Vichy, onde tinha residido após a ocupação de Paris pelas tropas nazis. Pacata e sossegada, a capital do país era um pequeno oásis de paz no meio de uma Europa mergulhada em morte e destruição. A sugestão da escolha de Portugal como porto de abrigo terá vindo do filho, Nubar Gulbenkian, que por cá já tinha passado, e também de José Caeiro da Mata, com quem travara conhecimento em Paris, quando este aí era embaixador de Portugal. Calouste Gulbenkian aceitou-a e foi em Lisboa, instalado no luxuoso Hotel Aviz, que viveu a última etapa da sua vida. Durante estes cerca de 13 anos, Calouste Gulbenkian terá estabelecido contactos com algumas personalidades da sociedade portuguesa da época, com as quais desenvolveu relações de amizade e cordialidade, e afeiçou-se aos costumes e ao clima ameno de Portugal. O país retribuiu-lhe esta afeição, oferecendo-lhe uma das mais altas condecorações – a da Ordem Militar de Cristo –, a única que Calouste Gulbenkian aceitou durante toda a sua vida.

Também deste período lisboeta a sua biblioteca particular nos dá testemunho precioso. Trata-se de um conjunto de obras não muito extenso, mas importante por permitir identificar algumas das personalidades nacionais que terão feito parte do seu leque de contactos. Algumas destas obras, em língua francesa, abordam temas relacionados com a Arte portuguesa, como Esquisse d’un tableau chronologique portugais et universel de l’histoire et de l’histoire de l’art e L’art portugais, ambas da autoria do médico e historiador de arte Reinaldo dos Santos, publicadas em 1949, ou ainda Exposition portugaise de l'époque des grandes découvertes jusqu’au XXe siècle, publicada por ocasião da exposição de Paris, em 1931. Grande parte delas são publicações em português – língua que Calouste Gulbenkian não terá dominado – sobre variados aspectos da História, Cultura e Arte nacionais e constituíram ofertas dos seus autores. É o caso da obra A batalha do petróleo, com dedicatória do autor, o escritor e jornalista Ernesto Belo Redondo, e de algumas obras sobre numismática, oferecidas pelo numismata Pedro Batalha Reis, sem dúvida conhecedor do interesse e dos conhecimentos que Calouste Gulbenkian detinha nesta área. Também o historiador de arte Luís Reis Santos ofereceu “au grand collectionneur d’Art Mr. Gulbenkian” um dos estudos de sua autoria sobre pintura flamenga.

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