São diversos os critérios que podem ser aplicados na definição de “obra rara” ou “tesouro” de uma biblioteca. Uma das definições mais comuns é a que determina o grau de raridade de uma obra a partir da sua disponibilidade no mercado e de especificidades, de conteúdo e de edição, que a tornem diferente e/ou invulgar. Por outro lado, uma obra absolutamente vulgar na época em que foi publicada pode tornar-se posteriormente, por razões várias, valiosa.
Nos títulos reunidos por Calouste Gulbenkian encontra-se um conjunto considerável de obras que, por apresentarem algumas características particulares, podem ser classificadas como “raridades” e “tesouros” da sua biblioteca. Os exemplos são diversos. Obras que os autores dedicaram a Calouste Gulbenkian e que constituem testemunhos valiosos do reconhecimento que lhe foi votado ao longo da vida. O leque de personalidades é vasto, da literatura à política, passando pelo mundo empresarial e artístico: Saint-John Perse, pseudónimo do poeta Alexis Léger, Maurice Sandoz, escritor compositor e também coleccionador de arte, e André Breuil, especialista de Arte pré-histórica, só para citar alguns.
Encontram-se também exemplares de edições que tiveram reduzidas tiragens numeradas, como o belíssimo Le livre d’heures de Louis Legrand (1898) exemplar nº124 de uma edição composta por 160 exemplares e The holy carpet of the Mosque at Ardebil (que contém 5 estampas aquareladas e 2 fotolitografias) que é o exemplar nº2 de uma tiragem de 50. E outros ainda são exemplares realizados propositamente – por sua encomenda - para Calouste Gulbenkian. É o caso da obra Les grands châteaux en France (1907), que teve uma tiragem de apenas 600 exemplares, dos quais o nº 2 foi impresso especialmente para Calouste Gulbenkian. Raros e preciosos são também os livros antigos, de datas e tipografias diversas, dos quais se podem destacar como exemplos Les quatres premiers livres des navigations et peregrinations orientales, impresso em Lyon em 1568, The travels of Sir John Chardin into Persia and the East Indies, impresso em Londres em 1686, e Elements d’orfévrerie, impresso em Paris em 1748.
Existe também um número significativo de obras que pertenceram a outras bibliotecas particulares, adquiridas por Calouste Gulbenkian em vendas públicas, apresentando encadernações especiais, o ex-libris e/ou o brasão do seu anterior proprietário. É o caso, entre outras, das obras Voyage pittoresque de Constantinople et des rives du Bósphore (1807?), que pertenceu à biblioteca da Duquesa de Berry, Symbolica Dianae Ephesiae statua a Caludio Menetreio Ceimeliothecae Barberinae praefecto exposita (1688), que ostenta o ex-libris do Duque de Bedford, e Hints on ornamental gardening, comprado em 1917 na venda da Biblioteca de Thomas Hope, cujo brasão se pode observar na capa.
É claro que constituem ainda “tesouros” desta biblioteca as obras que contêm anotações manuscritas do próprio Coleccionador, marcas de uma leitura atenta, pistas para as suas reflexões, para os seus métodos de estudo e para os seus gostos artísticos. Encontram-se disso exemplos em todos os núcleos temáticos que compõem a biblioteca, o que comprova o seu ecletismo, a diversidade de interesses e a sua sede de conhecimento.