Ao longo do século XX várias foram as grandes colecções particulares de arte que se formaram nos dois lados do Atlântico. Na sua maioria, foram reunidas por homens com origens e interesses culturais diversificados, como Andrew Carnegie (1835-1919), John Pierpont Morgan (1837-1913), Henry Clay Frick (1849-1919), Andrew Mellon (1855-1937) e Calouste Sarkis Gulbenkian (1869-1955), detentores de um gosto muito pessoal e, sobretudo, de grandes fortunas realizadas graças ao seu trabalho e talento negocial. Aconteceu, por vezes, que alguns destes homens disputaram a mesma peça, assim como, frequentemente, partilharam os mesmos especialistas e intermediários para se aconselharem, efectuarem as suas compras ou licitarem o quadro, o móvel ou o livro iluminado que cobiçavam.
Grande parte das obras de arte transaccionadas nas primeiras décadas do século XX pertenciam a colecções privadas que, por contigências várias, como o falecimento dos seus possuidores, acabaram por ser adquiridas em leilões por outros coleccionadores. Os catálogos editados pelas principais casas leiloeiras da época por ocasião da realização de vendas públicas continham uma descrição minuciosa das peças. Não é de estranhar que na biblioteca particular de Calouste Gulbenkian exista um núcleo importante de catálogos, tanto de outras colecções, como também dos principais leilões de arte efectuados ao longo dos anos em que constituíu a sua própria colecção.
Este núcleo de documentação assume uma importância particular na medida em que contribui para um melhor entendimento sobre o processo que esteve na origem da aquisição de muitas das peças que hoje podem ser admiradas no Museu Gulbenkian. Por outro lado, pode igualmente fornecer informações preciosas sobre algumas obras de arte que Calouste Gulbenkian conheceu, apreciou e, eventualmente, ponderou a possibilidade de adquirir. Outro aspecto interessante neste conjunto documental reside no facto de, em muitos destes catálogos, se encontrarem as mais diversas anotações manuscritas. Catálogos como os da Loan exhibition of the collection of Sir Harold Wernher e da Exhibition of pictures from the Althorp Collection - ambas exposições realizadas em Londres, respectivamente, em 1946 e 1947 -, contêm notas manuscritas detalhadas em praticamente todas as peças mencionadas. A caligrafia exibida será, possivelmente, de um dos conselheiros e intermediários a quem Calouste Gulbenkian recorria com regularidade, como Maurice Rheims, Arthur Pope e Kenneth Clark, recolhendo informações sobre as vendas realizadas em leilões. No Catalogue des objets d’art d’Orient, antiquités, céramiques de Perse... importantes miniatures persanes et indo-persanes, velours de Scutari...composant la collection de Monsieur Emile Tabbagh, cujo leilão se realizou em Paris em Maio de 1935, permanece a dúvida acerca da autoria das anotações que constam nas secções dedicadas às faianças, ficando em suspenso a hipótese de as mesmas pertencerem a Calouste Gulbenkian.